Memórias de infância:cabelo

Sempre tive uma relação negativa com meu cabelo. Cresci odiando-o. A cor era feia, parecia cabelo de milho, a textura era ruim, era difícil lidar com ele, assim como era difícil lidar comigo. Cresci associando essas duas questões. Que eu era teimosa e temperamental como meu cabelo.

Passei toda minha adolescência em conflito com ele e com meu jeito de ser. Achava que meu cabelo era “rebelde” porque eu também era. E todas essas questões de baixa auto estima que quem cresceu alisando o cabelo, se odiando e se achando feica conhece.

Em 2012, com 23 anos, parei de usar química e fiz meu primeiro big chop. Nunca me arrependi desse primeiro. E nem de nenhum. Entendam, eu estou Joãozinho pela terceira vez, feita e atestada por um barbeiro, cujo trabalho proporcionou mais praticidade para minha vida. Estou diferente e destacada, porque aí que faço questão de meter um batom e um brincão. Acordo pronta, posso lavar a cabaça com mais frequência e sinto menos calor.

Eu não odeio mais meu cabelo. Acho o cor natural linda, inclusive. Um marronzinho meio escrotinho, porém meu. Eu não o odeio, eu só nao quero mais conviver com ele. Ter trabalho para lavar, hidratar, umectar, nutrir, sentir calor, ter que manter corte, essas coisas. Eu estou bem melhor assim. Joãozinho da Silva. Minha vida ficou mais prática, meus banhos mais rápidos e eu amo isso demais. Fora que não preciso mais viver dependente se o cabelo vai secar ou não. Chegava da praia de noitinha e tinha que lavar o cabelo e levava mil anos para secar.

Estou vivendo um momento libertador e ainda assim me amando,me achando bonita e prática.Entendendo por que os homens são tão felizes e satisfeitos com suas vidas. Além de todo o privilégio que têm, não precisam viver incomodados por cabelo. E era assim que eu estava me sentindo. Incomodada.

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