tentando ser professora…

Tentando me curar, tentando sobreviver, tentando entender tanta coisa. Tentando, tentando, tentando… Tentando não surtar e voltando a escrever meus livros no tempo que é possível. Acordei com imensa vontade de ser muito escritora. Sei que sou escritora. Nasci escritora. Apenas estou outras coisas. Apenas estou professora, mas eu sou mesmo é escritora. Disso não tenho dúvida. Não quero fazer mais nada que não seja escrever. Escrever é a única coisa que não me entendia. Queria acordar às 6h, ir à academia, voltar, escrever para um canto, escrever para outro canto, sair para um café no final da tarde, voltar e finalizar meu romance. Mais um. Queria ganhar dinheiro para isso. Porque como vocês e eu sabemos, sou muito boa nisso. Sou uma professora razoável, mas sou uma escritora excelente.

Estou tentando não sucumbir, não desistir e não desacreditar de mim. E enquanto professora, tento incentivar a leitura o máximo que posso, para que haja leitores que me leiam no futuro. Que leiam novos autores no futuro. Sim, porque acho que tem espaço para todo mundo. Eu leio tantos livros… Então, outras pessoas também podem ler vários autores e assim cada estilo, cada universo, cada escrita, serão lidos e valorizados.

Me formei professora. Sou professora de português. E sempre soube que não era fácil e como comecei a estagiar cedo, sabia dos desafios que enfrentaria. Mas, precisava ser assim tão difícil? Sempre que estou em sala de aula, lembro quando brincava de escola com minha irmã e minha prima – quase sempre eu era a professora. E lembro que português sempre foi minha matéria preferida na escola. Tento me lembrar de onde eu vim, quais são meus planos, projetos e objetivos. Está muito difícil, cada vez pior ser professora. Eu achava que ser professora de rede privada, mesmo que de bairro, era menos pior, que os estudantes se interessavam mais, já que estão tendo oportunidades de ouro em simplesmente poder estudar em escola com estrutura mínima… Mas, não… Essa é uma ilusão, um preconceito, que passam para a gente desde cedo e que a gente acredita. A verdade é que especialmente os estudantes de escolas privadas – onde venho atuando e me frustrando desde 2022 – têm menos interesse do que quaisquer outros estudantes de escola pública que eu tenha conhecido. Ora, esses meninos deveriam estudar o dia todo, deveriam valorizar o esforço que os pais pobres fazem para que eles tenham livros bons, escolas boas, transporte, dinheiro para o lanche e porta no banheiro das escolas… Mas não… Eles não estão nem aí… Ninguém quer estudar. Ninguém liga. E aqui abro parentêse para dizer que estou generalizando e fazendo uma generalização bem grosseira. Têm muitos alunos que estudam, sim!

Me formei professora. Tenho orgulho disso. Gosto da minha profissão, mas eu quero dar aulas de português para quem realmente queira aulas de português. Ah, como é bom dar aulas para adultos de cursos técnicos ou ensino médio ou ainda pré-vestibular. A verdade é que essa é a minha praia. A gente vai aceitando as coisas, os desaforos, o excesso de trabalho e baixa remuneração, a realização de tarefas que não são nossas, mas eu fico pensando: as escolas precisam da gente até mais do que a gente precisa delas. Principalmente as de bairro. Eu digo isso porque eu já tenho uma longa experiência profissional antes de ser professora e a qualquer hora que eu quiser sair da área eu vou sair, enquanto vou buscando meus outros objetivos. Aí, continuo pensando: se a gente se recusasse a passar por certas coisas, será que não seríamos mais valorizados? Professores são muito desunidos. Além de acomodados e se acostumam muito facilmente com condições precárias de trabalho. Eu não me acostumo com desgraça, não.

Me formei professora, como ia dizendo, mas sou escritora. Intrinsecamente escritora. Me formei professora, mas para trabalhar com adultos e para trabalhar no serviço público. Fico me perguntando como tem gente que atua como professor anos e anos e ainda está saudável. Será que está saudável mesmo? Eu jã nem sei se é possível. Nem sei se realmente estou saudável. Só queria escrever meus livrinhos em paz e ensinar meio quilo de redação para uns estudantes que realmente estudam. É isso… Estou aqui, tentando. Não é do meu feitio desistir de certas coisas, pelo menos não mais. Continuo tentando, mas não sei até quando.

Rafaela Valverde

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